O tempo que nos resta...


De súbito sabemos que é já tarde.
Quando a luz se faz outra, quando os ramos da árvore que somos soltam folhas e o sangue que tínhamos não arde como ardia, sabemos que viemos e que vamos. Que não será aqui a nossa festa.
De súbito chegamos a saber que andávamos sozinhos. De súbito vemos sem sombra alguma que não existe aquilo em que nos apoiávamos. A solidão deixou de ser um nome apenas. Tocamo-la, empurra-nos e agride-nos. Dói. Dói tanto! E parece-nos que há um mundo inteiro a gritar de dor, e que à nossa volta quase todos sofrem e são sós.
Temos de ter, necessariamente, uma alma. Se não, onde se alojaria este frio que não está no corpo?
Rimos e sabemos que não é verdade. Falamos e sabemos que não somos nós quem fala. Já não acreditamos naquilo que todos dizem. Os jornais caem-nos das mãos. Sabemos que aquilo que todos fazem conduz ao vazio que todos têm.
Poderíamos continuar adormecidos, distraídos, entretidos. Como os outros. Mas naquele momento vemos com clareza que tudo terá de ser diferente. Que teremos de fazer qualquer coisa semelhante a levantarmo-nos de um charco. Qualquer coisa como empreender uma viagem até ao castelo distante onde temos uma herança de nobreza a receber.
O tempo que nos resta é de aventura. E temos de andar depressa. Não sabemos se esse tempo que ainda temos é bastante.
E de súbito descobrimos que temos de escolher aquilo que antes havíamos desprezado. Há uma imensa fome de verdade a gritar sem ruído, uma vontade grande de não mais ter medo, o reconhecimento de que é preciso baixar a fronte e pedir ajuda. E perguntar o caminho.
Ficamos a saber que pouco se aproveita de tudo o que fizemos, de tudo o que nos deram, de tudo o que conseguimos. E há um poema, que devíamos ter dito e não dissemos, a morder a recordação dos nossos gestos. As mãos, vazias, tristemente caídas ao longo do corpo. Mãos talvez sujas. Sujas talvez de dores alheias.
E o fundo de nós vomita para diante do nosso olhar aquelas coisas que fizemos e tínhamos tentado esquecer. São, algumas delas, figuras monstruosas, muito negras, que se agitam numa dança animalesca. Não as queremos, mas estão cá dentro. São obra nossa.
Detestarmo-nos a nós mesmos é bastante mais fácil do que parece, mas sabemos que também isso é um ponto da viagem e que não nos podemos deter aí.
Agora o tempo que nos resta deve ser povoado de espingardas. Lutar contra nós mesmos era o que devíamos ter aprendido desde o início. Todo o tempo deve ser agora de coragem. De combate. Os nossos direitos, o conforto e a segurança? Deixem-nos rir... Já não caímos nisso! Doravante o tempo é de buscar deveres dos bons. De complicar a vida. De dar até que comece a doer-nos.
E, depois, continuar até que doa mais. Até que doa tudo. Não queremos perder nem mais uma gota de alegria, nem mais um fio de sol na alma, nem mais um instante do tempo que nos resta.
(Paulo Geraldo)


E de repente...é já tarde demais...
Hoje não podemos fazer nada. Acho que também nunca tivemos oportunidade para fazer. Hoje ele não está cá e nós sofremos na pele a dor da despedida. Uma despedida tão trágica, tão chocante, tão custosa...
Figuras monstruosas habitam nas nossas cabeças. Porquê assim? Porquê não dar à vida o valor que ela merece? Porquê não pedir ajuda quando se precisa?
Temos tantas coisas boas à nossa volta e nem sempre reparamos nelas. Tantas vezes a atenção volta-se apenas para as insignificâncias e armadilhas da vida. Não pode ser...E agora a nossa dor? Como é difícil encarar tudo isto. Um punhal fere-nos o coração e as lágrimas caem desesperadamente nas nossas faces. Nada a fazer. Apenas a recordação de uma face que não a de agora.
Teremos de ser fortes e retirar uma lição de vida: todos os dias, minutos, segundos andam muito depressa.

Até sempre, tio.

3 Divergências:

oh mana:'(

pois e.. ta lindu o texto...

e realment custa... e mt..

e nos sabemos bem ne??

e um sofrimento k n deseja,os a ninguem..

n merecia:(

mas agora o k faxer??? nada...

viver a vida para a frente..

ele estar sempre aki <3, nos nossos coracoes...

P.S- um dia triste:'(

quarta-feira, janeiro 30, 2008 2:50:00 PM  

Sónia e Joana
Lamento a vossa perda. Só desejo que a vida ainda vos faça sorrir muito! O tempo ajuda a aceitar certas injustiças...
beijinhos

sexta-feira, fevereiro 01, 2008 7:32:00 PM  

Perante a dor, resta deixar um abraço, com a certeza de que o vosso tio estará sempre presente nos vossos corações, mantendo a alegria e ânimo que sempre vos transmitiu. Força!

segunda-feira, fevereiro 11, 2008 9:39:00 PM  

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